segunda-feira, 1 de março de 2010

O moleiro, seu filho e o burro

Um moleiro e o filho iam levar seu burro à feira, a fim de vendê-lo. Não tinham ainda caminhado muito quando se encontraram com um grupo de moças que voltavam da cidade, conversando e rindo.
- Olhem para aquilo! – exclamou uma delas. – Já viram tolos maiores? Caminhando a pé, quando podiam cavalgar o burro!
O velho, ouvindo aquilo, mandou que o filho montasse no burro e se pôs a caminhar tranquilamente ao lado dele.
Logo depois cruzaram com um grupo de homens idosos, que vinham discutindo animadamente.
- Vejam só! – disse um deles. – Isso prova o que eu vinha dizendo! Qual é o respeito que se tem hoje em dia pela velhice? Vejam aquele pequeno velhaco montado, enquanto seu velho pai caminha a pé! Desça daí seu tratante! Deixe que o velho descanse as pernas fatigadas!
Diante daquela manifestação o velho fez o filho descer do animal e montou nele. Assim continuaram o caminho até encontrarem algumas mulheres que vinham acompanhadas de seus filhinhos.
- Olá, velho preguiçoso! – gritaram várias vozes ao mesmo tempo. – Como podes cavalgar este animal, deixando o pobre garotinho a pé, mal podendo manter seu passo a teu lado?
O bom moleiro aceitou a censura e imediatamente fez com que seu filho subisse para a garupa do animal. Já estavam quase chegando à cidade quando encontraram um ditadino que perguntou:
- Meu amigo, esse burro lhe pertence?
- Sim – respondeu o velho.
- Pois ninguém diria tal coisa, vendo como o sacrificas com tanto peso! Vocês dois parecem mais em condições de carregar o pobre animal do que ele de carregar os dois!
- Seja como diz Vossa Senhoria! – falou o velho. – Podemos tentar isso.
Descendo do burro com o filho, ambos amarraram as pernas do animal e, pendurando-o a uma estaca, tentaram carrega-lo nas costas para atravessar a ponte de entrada da cidade. O espetáculo era tão cômico que as pessoas corriam em bandos, para rir dos dois. O burro, porém, não gostando da posição em que o tinham colocado, tanto se agitou e debateu que acabou caindo na água.
O velho,triste e envergonhado, tratou de voltar para casa, convencido de que, tentando contentar todo mundo, não contentara a ninguém, e ainda acabara por perder o burro.

Quem a todos dá ouvidos, não tem capacidade para se governar.
(Esopo)

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