sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Nasrudin e o mercador

Um rico mercador que voltava para casa depois de uma longa viagem resolveu parar no caminho para descansar à beira de um rio.
Sentou-se embaixo de uma árvore, tirou pão e carne da sacola, e se pôs a comer.
Nasrudin, que passava por ali, sentou-se atraído pelo delicioso aroma da carne. Estava com muita fome, pois tinha saído da cidade já fazia tempo e não havia comido nada desde cedo. Foi chegando perto do mercador e sentou-se, certo de que ele o convidaria a partilhar sua comida.
- Nasrudin, você está vindo da cidade? – disse o homem, com a boca cheia.
- Sim. Estou indo visitar um amigo – respondeu o mulá, sem tirar os olhos da carne.
- Ah, então você passou pela minha casa. (...)
O mercador, que parecia estar com mais apetite do que nunca, cortou outro pedaço de carne, sem oferecer nada para Nasrudin. E continuou: (...)
- Sabe, Nasrudin, foi bom ter encontrado você no caminho. (...)
Ele acabou de comer a carne que ainda tinha na mão e jogou os ossos para um cachorro que passava. Depois, guardou o pão e o resto da carne na sacola, e levantou-se para ir embora.
Nasrudin não agüentou: tinha que dar uma lição naquele homem. Com uma cara muito triste, disse:
- Tenho certeza de que você não teria dado os ossos para um cachorro qualquer se o seu próprio cachorro ainda estivesse vivo.
- Como assim? – espantou-se o mercador – Meu cachorro morreu?
- Infelizmente, sou obrigado a dizer que sim – respondeu o mulá com a voz mais fúnebre deste mundo. – Foi o sangue do camelo. Ele bebeu demais.
- O sangue de que camelo?
- Do seu camelo. Sabe, não houve outro jeito. Ele teve que ser sacrificado, porque foi muita gente ao enterro da sua mulher, e como a comida não dava para todo mundo...
- O que? – gritou o homem. – Minha mulher morreu?
- Era uma esposa perfeita – continuou o mulá, calmamente – mas ela chorou demais sobre o túmulo do seu filho. Não pôde suportar tanta dor, pobre mulher.
- Não é possível – disse o mercador, desesperado. – Meu filho estava na mais perfeita saúde quando fui viajar.
- Mas a desgraça chega quando menos se espera, essa é a verdade. O teto da sua casa despencou bem em cima dele, coitado.
O mercador berrou, ajoelhou no chão, arrancou os cabelos e bateu na cabeça com os punhos fechados. Depois saiu feito um louco em direção à cidade.
Nasrudin abriu a sacola que o homem havia esquecido, pegou um belo pedaço de carne e , muito satisfeito, começou a comer, bem devagar.
Regina Machado. Nasrudin
Boa Leitura
Camila Garoli Vilela

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